domingo, 6 de fevereiro de 2011

Débora.1

Não é certo deixar uma cadeira encostada no hall de entrada durante tanto tempo. Débora pensava no assunto. Ele é meu vizinho e isso torna tudo mais complicado. É preciso tratá-lo com respeito. Com cuidado. Como obrigar alguém a tirar uma cadeira velha do hall quando esse alguém sequer se dá o trabalho de fechar com um nó os sacos de lixo cheios de picotes de embalagem de lasanha depositados na lixeira comum?
– Era uma cadeira de jacarandá muito bonita. – notara o marido de Débora ao chegar em casa uma semana antes. – Você podia lhe pedir a cadeira de presente se ele realmente não a quiser mais. Você também é muito bonita.
Débora sorrira e pedira a cadeira a Davi. Davi já havia prometido dá-la a uma amiga.
– Uma amiga já pediu essa cadeira há muito tempo – disse Davi. Era mentira.
Débora não conseguia perceber as mentiras de Davi. E por isso quando acordou no dia seguinte e tomou o café atrasada para abrir a loja a tempo e tristonha por ter o marido viajado na véspera e saiu de casa correndo pelas escadas depois de notar enfim a ausência da cadeira e por isso ficou aliviada e ao mesmo tempo ainda mais tristonha. Débora não ouvira na noite da véspera o barulho da cadeira despedaçada contra o tronco da árvore. Ou então ouvira mas não imaginara ser precisamente o seu vizinho de andar trucidando uma antiguidade de jacarandá muito bonita. Se tivesse visto a cena talvez não ficasse tão tristonha na manhã seguinte porque talvez não a relacionasse à suposta amiga do vizinho.